Todos temos olhos. Então todos sabemos ler uma imagem? Paulo Freire fala da precedência da leitura do mundo sobre a palavra. A imagem está no mundo e os que têm olhos veem as imagens; mas ver, necessariamente, não é ler uma imagem.
E você, professora, acha que uma imagem pode ajudar em uma atividade de matemática? Afinal, matemática não é somente números, contas?
Na Faculdade de Pedagogia e nas reuniões pedagógicas na escola, professora, não ficam insistindo com você para usar o lúdico e as novas tecnologias em sala de aula?
Descubra o que a leitura de imagem pode fazer por você em uma atividade matemática lúdica e inovadora, estratégica, para que você tenha sucesso em sua sala de aula.
Essa é uma estratégia que se aplicada da maneira como a Pedagogia 1.5 mostra, vai possibilitar a você construir aulas dinâmicas e lúdicas. Melhor: é um modelo que funciona em qualquer atividade de matemática.
“A sintaxe visual existe”. A frase afirmativa é de Dondis (2003).
Todos passaram pelo sofrimento da análise sintática na escola, professora. Aprende-se a gramática da língua portuguesa de uma forma cansativa e quase sempre parece sem sentido.
Quando criança, aprendemos a falar de uma forma natural, no meio familiar. Sabemos a ordem das palavras nas frases e essa aprendizagem acontece de maneira simples e ninguém nos informou que estávamos estudando gramática.
A sintaxe faz parte da gramática. Com ela pode-se entender a estrutura das palavras nas frases. A estrutura das frases no discurso e a forma lógica como as frases se relacionam entre si.
Então surge Dondis (2003) e diz que a sintaxe visual existe. Parece ser complicado, professora, porém, não é.
Basta que pensemos por analogia. Uma pintura, uma gravura, um logotipo têm uma mensagem visual, às vezes combinada com uma mensagem verbal escrita ou falada. As figuras não se distribuem de forma, casual, aleatória, na imagem.
Essas figuras que compõem a imagem, ao se distribuírem dessa ou daquela maneira, a fim de exporem uma mensagem, obedecem a determinadas regras de composição.
É isso que se chama sintaxe visual: a forma como os elementos que compõem a imagem se distribuem, se estruturam.
A autora nos informa, professora, que uma mensagem visual pode ser mais facilmente compreendida se entendermos a sintaxe visual que estrutura essa imagem.
Alguns fatores influenciam o modo como vemos uma imagem. A maneira como encaramos a vida, o mundo, de uma maneira geral, vai afetar o que vemos.
Os costumes sociais, a educação que nos dão, controlam, programam, nosso psiquismo. Ficamos arraigados as nossas preferências visuais.
Uma imagem é uma composição visual, professora.
Ela é composta de elementos básicos que todos conhecemos como:
Com esta matéria-prima pode-se compor qualquer obra visual.
Esses elementos básicos podem ser manipulados pela técnica.
Um artista pode usar a simetria, o equilíbrio, a distorção, a ousadia e inúmeras outras técnicas que poderão ajudar a comunicar sua mensagem.
Dondis (2003) postula, professora, a necessidade da alfabetização visual para que se possa compreender a mensagem visual de forma mais profunda, afastando-se de visões puramente superficiais.
Aumont (2002) argumenta a respeito de estar batido falar que somos a civilização da imagem.
Concretamente, há uma proliferação de imagens que inundam a vida de todos. Sem falar na intercambialidade entre elas: vê-se filmes na TV, pinturas aparecem em reproduções fotográficas.
O autor fala o óbvio: “Se existem imagens é porque temos olhos: é evidente.” (Aumont, 1993, p. 17).
Vemos com os olhos, mas eles fazem parte de diversos órgãos especializados, sendo somente um dos seus instrumentos. A percepção visual ocorre por meio de operações ópticas, químicas e nervosas.
Na civilização da imagem, professora, há um interesse maior pelo visual, pela cultura visual, o que engendra a necessidade de se buscar uma alfabetização visual que pode ser chamada também de leitura de imagens, pontua Sardelich (2006).
A imagem traz em si diversos códigos que podem ser decifrados, decodificados, daí a possibilidade de se ensinar a vê-la e, também, a sua leitura.
Sardelich (2006) enfoca igualmente outro aspecto que é o da pedagogia da imagem.
A educação, professora, não existe somente em ambientes formais de ensino como a escola. A sociedade produz diversos mecanismos educacionais próprios de contextos sociais e culturais.
As imagens, além de ilustrar e informar, podem ainda produzir conhecimento e educação.
Há na proposta da pedagogia da imagem o incentivo à leitura crítica da imagem, em que se aprendem maneiras de apreciar, interpretar e decodificar qualquer elemento figurativo.
O papel da pedagogia, no seu intercâmbio com a cultura, precisa ser refeito para poder agir como auxiliar na interpretação cultural.
A autora relembra a visão freiriana da leitura do mundo preceder a palavra e, dessa forma, sempre que se lê, a experiência pessoal vivida torna-se fonte de influência a partir do lido. Há a tradução do que é visto pelo filtro de nossa experiência.
Na cultura visual, professora, deve-se diferenciar visão e visualidade, anota Sardelich (2006).
A visão é um processo fisiológico da luz impressionando os olhos; já a visualidade pode ser vista como o olhar socializado.
Um africano, um brasileiro ou outro povo qualquer não demonstram diferença em seus sistemas óticos, porém, as maneiras de representação e descrição do mundo são diferentes para cada povo devido ao filtro cultural utilizado.
A expressão raciocínio lógico, professora, traz sua própria explicação: o raciocínio pressupõe organizar o pensamento logicamente.
Trata-se de organização operacional e mental para acordar ideias, conceitos e conhecimentos com o objetivo da resolução de problemas.
Geralmente se associa o raciocínio lógico ao estudo da Matemática, mas ele perpassa todas as disciplinas.
O pensamento computacional incorpora processos para a resolução de problemas e pode ser um poderoso auxiliar para ampliar o raciocínio lógico.
Na Base Nacional Comum Curricular-BNCC (2017), apresenta-se o pensamento computacional como uma exigência para o aprendizado não só da matemática como também para introduzir as novas tecnologias da era digital no processo educativo desde o ensino fundamental.
Koscianski e Glizt (2017) utilizam as pesquisas de Papert cujo princípio aponta que o ato pedagógico objetiva elaborar situações para o estudante abraçar de forma entusiástica atividades que nutram seu procedimento construtivo.
O construcionismo de Papert busca maneiras de instigar o pensar criativo e a curiosidade como formas de envolver o aluno no seu processo ativo de aprendizagem.
Para os autores, tanto Piaget como Papert admitem ter a criança, como ser pensante, a possibilidade de organizar suas respectivas estruturas cognitivas ainda que não o façam de maneira intencional.
Quais seriam as condições para que a criança possa assimilar conhecimento? Seguindo Papert, dizem os autores, o ato pedagógico ocorrerá quando se criam circunstâncias para que os estudantes abracem atividades que nutram sua ação construtiva.
Estimular o pensamento criativo, professora, proporciona a possibilidade de aprendizagem com interesse e envolvimento na tarefa a ser realizada.
Para o construtivismo, deve-se focalizar, em essência, as operações concretas para a construção do conhecimento. O pensamento deve ser ampliado pelas operações no cotidiano e o importante é usar a experimentação e a descoberta de caminhos.
No lugar da passividade, o aluno torna-se proativo no processo de aprendizagem, sendo o centro do ensino e o professor um mediador criativo.
O que a educação busca é a autonomia do estudante a fim de que se desenvolva cognitivamente. Autonomia e raciocínio lógico são faces de uma mesma moeda.
As chamadas gerações digitais – gerações Z (idades entre 10 e 24 anos) e alpha (até 9 anos de idade) – nasceram mergulhadas em um mundo de algoritmos em meio a celulares, tabletes, computadores, em que clicar e navegar acontecem de modo frenético.
Mas essa imersão digital produz efeitos colaterais: a dificuldade de concentração dos alunos.
Essa geração digital é alfabetizada digitalmente? Tudo indica que não. A perda do poder de concentração dificulta maneiras mais intensas de aprendizagem, prejudicando principalmente a memória. Atrapalha a capacidade de processar informações.
Isso impede as capacidades de interpretação, análise, elaborar resumos, efetuar críticas e concluir a respeito da informação.
Daí a necessidade da alfabetização digital, a chamada habilidade do século 21, que poderá ser desenvolvida por meio da competência do pensamento computacional.
O pensamento computacional favorece a resolução de problemas por intermédio do raciocínio lógico e proporciona o desenvolvimento cognitivo. É importante para melhorar o aprendizado e a capacidade de tomar decisões.
Mas pensamento computacional, professora, não necessariamente quer dizer trabalhar com computadores. A abordagem desplugada funciona perfeitamente como estratégia de desenvolver a alfabetização digital.
Na Pedagogia 1.5, a abordagem desplugada pode ser efetivada por meio da alfabetização visual na leitura de imagem.
Os quatro pilares do pensamento computacional podem ser acionados no processo de análise de uma imagem.
Por isso, a conclusão desse artigo é a discussão de uma atividade matemática de uma das propriedades da adição, em que esses quatro pilares poderão ser desenvolvidos por meio da leitura de imagem.
Os noivos, s/d. Fé Cordula: Tribuna do Norte
Fé Córdula nasceu no sertão de Seridó, em 1933, tendo sido criado em Acari. Mudou-se para Goiânia em 1974. Foi pintor, escultor e desenhista.
É um artista da arte naif, que em francês quer dizer arte ingênua.
Sua pintura, de autodidata, não segue as normas da arte acadêmica. Pintores naifs gostam de trabalhar com colorido vivo.
Objetivo geral
Trabalhar os fatos básicos de adição e tabelas, utilizando a leitura de imagem como estratégia para desenvolver os quatro pilares do pensamento computacional por meio da abordagem desplugada.
Objetivos específicos
Nos anos iniciais do Ensino Fundamental I, torna-se necessário a utilização de novas estratégias para o ensino de Matemática.
Nesta atividade, propõe-se trabalhar a adição usando a leitura de imagens que possibilita também o desenvolvimento do pensamento computacional.
Passo 1: Reconhecimento historiográfico.
Faça um rápido esboço bibliográfico do pintor Fé Córdula.
Passo 2: Primeiro pilar – decomposição.
Trabalhe com os estudantes as seguintes questões, auxiliando-os com os termos referenciais direita, esquerda, superior, inferior, primeiro plano.
Passo 3: Segundo pilar – reconhecimento de padrões.
Contar grandes quantidades não é fácil. Faça a primeira pergunta abaixo e observe a dificuldade que encontrarão para contar o número de pássaros.
Sugira que eles agrupem as figuras para facilitar a contagem. Por isso, peça para as crianças agruparem de 3 em 3 ou de 4 em 4 os pássaros que estão voando.
Passo 4: Terceiro pilar – abstração.
Apresente para eles a Tabela A e peça que assinalem a alternativa correta.
Passo 5: Quarto pilar – algoritmos
Fazer com a turma uma descrição oral coletiva utilizando como estrutura da descrição as perguntas dos Passos 1 a 4.
AUMONT, Jacques. A imagem. Campinas, São Paulo: Papirus Editora, 2002.
DONDIS, Donis A. Sintaxe da Linguagem Visual. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
Faça uma Pedagogiação1.5: uma ação pedagógica consciente, intencional, orgânica, porque cientificamente orientada, usando o Método Único, Inovador, Revolucionário: Pedagogia 1.5.
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SANTOS, Willian M. dos. Música: uma ferramenta interdisciplinar para o ensino de matemática. 2012. 123f. Monografia (Licenciatura em Pedagogia) – Universidade Paulista: Santos, 2012.